sexta-feira, 24 de abril de 2015

Libertem Jesus

Libertem dos seus próprios calendários; o único dia marcado pelo filho de Deus já aconteceu, e foi há 2.000 atrás. E através desse dia, em todos os outros podemos ressurgir Nele.
Libertem Jesus dos sacrifícios, das promessas, das barganhas; holocaustos ao próprio sacrificado não podem nada em seu efeito;
Libertem Jesus dos anátemas; Quem você bane é possivelmente Quem por ele seria protegido.
Libertem Jesus da política e dos líderes infalíveis; das bancadas, da representatividade de nada, da escandalização, da falta do olhar pra minoria, das preocupações rasas e sem amor. Libertem Jesus dos jargões e clichês. A nossa tribo é o mundo e temos que nos fazer entender;
Libertem Jesus das mecânicas; Nele, tudo está desreliquizado.
Do altares de Caim; dos amuletos; do pensamento do ganho segundo um ritual; da negociação do que é gratuito.
Da hipersimplificação da vida e seus mistérios: dos destinos marcados, das interpretações tendenciosas, das personalidades engessadas diante de um Deus modelador de almas.
Liberem Jesus de suas palavras repetidas; a mente renovada se conecta com Deus em ínfimos níveis de vocabulários verbais e não-verbais; Liberem o Deus ilimitado das unções industrializadas, dos desmaios ensaiados, dos dons ensinados...
Liberem Jesus de tudo o que é físico, tangível; Ele não é infinito, pois o que é infinito tem um início. Jesus é eterno, sempre existiu, e não anunciaria sua glória em objetos.
Liberem-no das terceirizações do que deveria ser centralizado; do olhar múltiplo da idolatria. Das filas no Vaticano e na Universal, querendo alcançar o que por direito a Graça já os deu.
É Ele quem liberta, mas também é Ele que precisa ser liberto. Da língua que critica em Seu nome, da caridade carente de Verdade, da repreensão sem amor, da demonização exacerbada e a falta de Olhar Humano para o que não tem o “selo gospel”. Soltem Deus das paredes que insistem em tornar exclusivo o que, por meio do Cordeiro, é Patrimônio Humano.
O véu que se rasgou pode nos libertar do Cristo ensanguentado, das imagens do Cristo branco criado em Sol desértico, do Cristo ser de luz, do Cristo dos feriados, do Cristo dos cientistas duvidosos...
Do Cristo que jamais editaria a sua própria pregação de simplicidade. Libertem-no do fardo que é ser garoto-propaganda de uma campanha de prosperidade financeira, tendo sido o profeta que, em cima de um burrinho, anunciou as boas novas, e rejeitado foi exatamente por não ter o requinte que esses pregadores oferecem ao povo.
Libertem-no dos templos em ouro, do discurso inchado de céu-inferno, diminuindo a grande graça derramada hoje, aqui, agora.
E assim, sendo liberto, e não mais crucificado, e ressurreto, Jesus terá espaço para ser Deus. E, reconhecido como tal, lecionar a fé simples da qual ele é o autor.
Fé essa que, como no sonho de Nabucodonosor, é modesta como um pedregulho, mas forte a ponto de destruir uma estátua de ouro, bronze e prata.
O grande ruído da fé hoje é culpa do cristão desajeitado, que perdeu no caminho a essência da simplicidade do que é se ter fé no carpinteiro otimista de Nazaré. Não cabe a ninguém burocratizar o que a Fala Original de Deus já tratou como um caminho aberto.
O preço da liberdade já foi pago. A história, anotada. O caminho, apontado. De forma que nenhuma intervenção humana pudesse acontecer sem que anteriormente alguém já A tivesse condenado. Condenados, aliás, seremos nós, se permanecermos na apática religiosidade humana, cheia de eventos, mas com o coração distante.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Amor

       Amor não tem data de validade, mas nosso coração inflexível, que um dia resolve apostar todas as fichas num alguém – em um só amor, de papel passado e aliança – não tem cintura para o rebolado da vida a dois. O precipitamento do amor, compreensível haja vista seu caráter apaixonado, pula todas as cláusulas e inocentemente vai direto até a assinatura. E isso não é negativo, apesar de arriscado, pois existe razão nas coisas feitas pelo coração. Mas a sua manutenção muitas vezes é inimiga da sua própria essência. Antes não houvesse o dia seguinte. Mas se não houvesse, paixão seria, e não amor.
       Ninguém é a mesma pessoa todos os dias. É como se a moeda utilizada fosse variando dia após dia e aquela transação – relação - tivesse de ser administrada segundo o valor que ainda tem para os dois – se ainda tiver o mesmo valor para os dois. Coloca a prova todas as promessas. Em risco tudo o que sabemos sobre nós mesmos.
       A questão é que o primeiro amor não dá sustância nem para si mesmo, tampouco para a proposta de uma vida inteira. A dieta necessária para comportar o ingrato passar dos dias no calendário conjugal - que muitas vezes arrasta-se em longas e difíceis horas - passa longe do arroz e feijão oferecido por duas almas que por vezes se chocam e se cansam do mesmo cardápio – e dos mesmos tombos emocionais. Graças a Deus há o dia seguinte, pois é sinal de uma nova chance!
O importante é saber que sair dos trilhos é natural. Dias menos brilhantes são apenas dias, que passarão. Que é na fraqueza do ser humano que o amor encontra impulso. Na inconstância, que ele encontra equilíbrio. O amor verdadeiro é aquele que declara sua hipossuficiência diante da tempestade, e apela às estratégias de guerra para que o amanhã exista, pois na nebulosidade da tensão consegue enxergar que o melhor ainda é permanecer junto. Contraria as tendências pessoais pela própria força, destrói linhas que separam histórias, abate o eu, faz o território do outro ganhar mais importância que o seu.
E que o casamento é, na verdade, uma tentativa de amor. Nada tem a ver com passividade, submissão, ou qualquer condição que não tenha um fundo inexplicável. O que se explica não é amor, e sim acordo. Pois o amor verdadeiro, expressado na Carta de Coríntios, é um estado muito elevado para julgarmos conhecer tão bem. O amor não se justifica no hoje, pois amanhã poderia acabar e seria mentiroso. O amor se justifica no último dia. E o último dia, nós não sabemos qual é. Que na caminhada até ele, pelo menos, estejamos na boa e velha companhia do amor que a vida deu a cada um. Amém.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Porque eu sou cristã

Algumas coisas têm me feito relembrar meu caminho espiritual. Eu nunca fui atrás de bênçãos. Também não foi uma dor que me levou até Deus. A questão divina era tão neutra pra mim que jamais me tirou noites de sono, como tira aos questionadores. Eu, como qualquer pessoa, buscava felicidade. Encaixe entre os meus desejos e os acontecimentos. Dentre tantas outras características minhas, uma era não caber em doutrina nenhuma.Mas aí hoje, pensando bem, percebo que ninguém caberia por tamanho. A complexidade de uma pessoa não cabe numa caixinha. A vida é a soma de tantas coisas... genética, sorte, criação, história, experiências. Já pensou em quantas pessoas passaram por situação de morte e – só – por isso buscaram religiosidade? Realmente, existem vários tipos de fé. Ateus podem ser espirituais no seu dia a dia. Porque o ser humano tem predisposição a crer – é como um DNA comum. Também acredito no poder da caridade. Dá lucidez perante o mundo. Existem céticos lindos e cristãos que até o diabo teria inveja. Isso é natural em qualquer instituição – religiosa ou não.

Acontece que quando o discurso amplo, comum nas mesas redondas de religiões, é abafado por uma conversa ao pé do ouvido com Deus – uma experiência individual – você entende que apesar de ser algo particular, acontece com muita gente. E nunca é comum. Você observa pessoas, cada qual com suas mochilinhas cheias de experiências e sentimentos, falando sobre o mesmo Deus – e apontando os mesmos milagres, e largando os mesmos vícios, e sentindo a mesma liberdade, e narrando a mesma nova vida. O que se chamaria religião é, na verdade, uma reunião de experiências individuais em uma só voz. E a conversão (que significa mudança de sentido) é o exato momento em que resolve qual voz seguir. No meu primeiro encontro, não me lembrei das antigas dúvidas e nem pensei muito. O que entendi – e se sustenta até hoje – é que a fé no filho de Deus me levou a conhecer territórios que a fé na vida nunca me levou, em chão plano e seguro. Entendi que queria morar ali pelo resto da vida.


Eu não escolhi ser cristã, fui constrangida pela experiência que tive. Entendi que dentro dessa caixinha se encontrava um mundo cheio de sentido, o qual fez no meu coração tudo se tornar explicável, desde a criação do universo até os meus desejos pessoais. Eu sou cristã, porque foi isso que me libertou da ânsia pelo futuro, da escravidão da adivinhação e do tabu da morte, para que não buscasse previsões ou explicações, para que a vida mantivesse os mistérios combustíveis do dia-a-dia, necessários ao exercício de fé tão importante para o ser humano, para que a vida não se tornasse transparente. Deus me fez entender que mais forte que o big bang é a força humana, que roda o mundo em busca da felicidade. Mais importante que a caridade com o outro, é ter piedade de si mesmo. O cristianismo me explicou ao pé do ouvido tudo o que eu precisava saber sobre a vida. E o que não foi explicado, tenho no meu coração que não se faz necessário saber, pois está sendo cuidado por Quem sempre perto está. Não é questão de sentimento: se fosse, qualquer objeto digno de fé seria eficiente. É questão de resultado. O maior mergulho de fé que dei na vida foi com Jesus, porque foi o único onde voltei à tona com uma vida nova.

terça-feira, 25 de junho de 2013

A árvore do conhecimento - "O Senhor está perto de todos os que o invocam, de todos os que o invocam com sinceridade” Sl. 145




'O bem, quando amadurece, se mostra cada vez mais diferente,
não só do mal, mas de qualquer outro bem.'
-'O mal pode ser desfeito, mas não pode "transformar-se" em bem.'




Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, para que Seus valores fossem embutidos neles. O que nos difere de todas as outras criaturas é a herança genética divina, que são a consciência, a capacidade de sentir, raciocinar e analisar. Adão lidava com Deus diariamente, tinha alimento, companhia, felicidade. Deus o acompanhara. Por isso, o Pai aconselhou que não comessem o fruto proibido da árvore do conhecimento, porque sabia que o fator sentimento e o próprio sentido visão configuravam um risco. O que tinha uma via boa, poderia ser usada para o mal. A serpente é definida como um “animal selvagem”, “astuto”, que tem por definição característica de quem consegue obter privilégios para si e não se deixa enganar; quem pratica a maldade enganando outras pessoas. O astuto então engana, mas não é enganado. Esse é o mal: selvagem, porque nos convence da veracidade dos nossos instintos. E astuto, porque conhecendo esse instinto constrói mentiras em cima dele.

Deus pede que não comam do fruto proibido. Eva olha para a árvore, tem o paladar aguçado e se sente atraída pela fruta. Responde por si própria, quando até ali tinha vivido com Alguém guiando com amor os seus passos. A questão ali era: Se você me ama e não pode me provar, qual a eficácia desse amor? Acatar a decisão do outro mesmo sem entender consiste em exercitar a confiança e por à prova esse amor. Amor pressupõe liberdade, porque é na liberdade que os sentimentos maravilhosos acontecem. Deus precisava doar essa liberdade para conceder ao ser humano o acesso ao amor. Mas também precisava ter segredos para que a fé fosse de fato “a certeza das coisas que não se veem”. E para que Ele pudesse sempre estar por perto, completando o que faltasse, dizendo o caminho, colocando segurança onde há inconstância, já que somos tão incoerentes (Como Adão e Eva) em tudo o que fazemos.

Democratizar o conhecimento divino, então, seria como dar pérola aos porcos. É dar uma pinça médica a quem não é cirurgião. Porque, no fundo, somos bichos. Que respondem às maiores e menores vontades sem pensar no depois. Nem tudo o que se sente, por se sentir, é bom. O que nos faz gente é o DNA de Deus. O que nos faz gente completa, inteira, feliz então, é fazer a vontade de Deus. A fé da humanidade hoje se resume em buscar evolução, mas pouco se fala em arrependimento, em voltar atrás. Cavam-se acessos às explicações sobre a morte, respostas em adivinhações, quando tudo na verdade está ao alcance da oração, exceto o que está fora da vontade de Deus. Somos pessoas cheias de ferramentas para prever o futuro, mas sem pulso para resolver o presente. No momento ruim de Eva e Adão, conhecer o bem e o mal não amenizou o sofrimento, tampouco as consequências futuras.

A verdade é que nada no mundo foge da influência de Deus: é sempre modificado pela sua presença, ou até mesmo por sua ausência. E ausência se resolve com presença. A vida é uma tentativa cíclica de diminuir a distância entre o que se sente e o que se vive. E coerência emocional é para poucos. Deus é o descanso do nosso instinto predador, curioso, inconstante. Quando se conhece o caráter de Quem conduz o carro, podemos fechar os olhos e aproveitar a viagem, sem requerer maiores argumentos. “O segredo do SENHOR é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua aliança”. Adivinhação é uma afronta para o Deus vivo, que se dispõe a passear pelo jardim com você. Deus reconciliou o mundo consigo através de Jesus. O véu que existia, atrapalhando esse perdão, foi rasgado. O termo “aceitar Jesus” passou por muitas banalizações, mas no fundo é dizer “Pai, eu quebro meu vínculo com essa raça que está padecendo. Quero fincar minhas raízes em quem venceu o mundo. Não tenho mais coluna para suportar tanta inconstância. Se por minhas mãos conquisto o que me faz feliz, amanhã já sou eu que mudei e quero outra coisa. Eu não sou grande o suficiente para administrar o risco de viver uma vida inteira desejando a árvore errada. A água da minha própria cisterna nunca matou minha sede por completo”.

“Comerão do fruto da sua própria conduta e se fartarão de suas próprias maquinações. Pois a inconstância dos inexperientes os matará, e a falsa segurança dos tolos os destruirá. Mas quem Me ouvir viverá em segurança” (Prov. 1/31-33).

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Have Faith

Quando alguém não sabe explicar algo, diz que só resta a fé. Como crer fosse a atitude do desesperado diante de uma circunstancia em que fica imponente. Como se não fosse fruto de uma convicção inabaláveis que transcendem a obviedade.

Fazemos parte de um mundo entorpecido de religiosidade, afirmando sutilmente que a fé faz sentindo ainda que não seja compreendida de maneira ampla, ou que não possa ser explicada razoavelmente àqueles que não tem. Parece que o conceito antropológico de fé passou a significar "aquele que acredita em algo mesmo que isso esteja incorreto' Enquanto a vivencia coerente das Escrituras Sagradas apontam para outra direção. Ou seja, se não compreende algo, então NÃO FAÇA. Pois o compreender é mais importante do que o fazer.

Nesse mundo cheio de Wikipedia, Youtube, Blogs e Revistas de fofocas, fica cada vez mais complicado afirmar que as certezas das pessoas são baseadas em convicções racionais. Quanto mais certeza alguém afirma ter, mais superficial costuma ser a raiz intelectual disso. Como então falarmos de convicções no meio destes tiroteio de informações? Talvez esteja na ora de pararmos para revisar quais são nossas fontes confiáveis. Afinal crermos em que?

Enquanto o cristianismo enlatado domina a mídia, nos envenenamos de conceitos equivocados. Aquele zelo pelas coisas de Deus é substituido pelo "não devemos julgar". Preferimos acreditar que não é preciso olhar para os homens. Mas que mais importante é olhar pra Deus. E a fé das pessoas é confundida na medida em que passamos a ter super-homens-de-Deus que não mais Judas Iscariotes do que o original.

Também prometemos coisas que Deus nunca prometeu. Saúde, carros, casas, viagens, conforto... E quando o Senhor obviamente NEGA seu favor para atender a tais clamores, então ouvimos um "VOCÊ NÃO TEVE FÉ". Cuidado! Estão tentando transformar a fé genuína em positivismo. Acredite, isto nada tem a ver com o propósito de Deus. Pensamentos positivos não tem o poder nem para segurar uma diarréia, quanto mais para transformar a vida de alguém.

A fé que funciona é baseada no sólido fundamento. A palavra de Deus revelada ao homem. Ela não é refém de nossos interesses e nem mesmo depende do quanto nos sentimos dispostos ou não.

Para sermos justos, basta procurarmos viver a justiça. E a justiça é a vontade de Deus. Se a nossa fé é incapaz de fazer Deus mudar de opinião, por outro lado ela é totalmente suficiente para mudar a nós mesmos. Ou seja, eu creio que estou sempre errado, enquanto o Criador está sempre certo. Minha oração não muda a Deus nunca. Mas eu mudo. E junto comigo, tudo que está ao meu redor.

Porque o Senhor falou, eu creio.Porque entendo, vivo. Porque vivo, reparto.

A fé que muda o mundo é sólida, racional e movida a íntima paixão. É a que se move na direção do necessitado e do desesperado. É a que nega Nietzsche, mostrando que somos os mais fortes quando damos nossa vida pelos mais fracos. Porque SABEMOS que para isso nascemos.

ESTA É A NOSSA FÉ. - Ariovaldo Junior.

terça-feira, 4 de junho de 2013

‘’Se a cobra morder antes de ser encantada, para que servirá o encantador?”

 Certo autor tem uma série de livros que trata sobre as características marcantes da personalidade de Jesus. E uma das que mais me chama atenção é a forma como protegeu seu emocional. O livro lembra um detalhe importante: Jesus trabalhava como marceneiro, utilizando as ferramentas – prego, martelo, madeira – que um dia o matariam. Imagine só o que é acordar, ir até o quintal de sua casa começar suas atividades, quando um insight te diz dia e hora da sua morte. Um bom começo para um trauma gigante, já que Ele era feito de carne e osso como nós, não é?

Jesus sofreu também a dor da traição, mas teve sabedoria para não gerar trauma no traidor, pois sabia até onde aqueles corações aguentavam – Judas se suicidou por remorso, e não arrependimento, se tivesse se arrependido, teria sido perdoado.E nós, como lidamos com as nossas avarias? Existem pessoas tentando comprimir no tamanho de uma frase o resultado de um universo inteiro, feito de escolhas próprias, consequências externas e, principalmente, de onde se deposita a fé vital. Eclesiastes diz que “o tempo e o acaso afetam tudo”, é verdade, mas o ponto onde você olha importa muito mais do que o trajeto que o fará chegar até lá. O que impulsiona a sua vida?

Mães que justificam a doença dos filhos, mulheres e seus casamentos falidos, pessoas traumatizadas, gente que tem pavor da morte. Estou falando de pessoas que quando falam o nome "Deus", na verdade se referem a vida em geral. E vida inclui nossos erros, desequilíbrios, falta de foco - percebe como Deus pouco tem a ver com isso? São no ombro dessas pessoas que o passarinho da insensatez pousa e, com explicações medíocres, finge amenizar o sofrimento, assentindo de que ele existe, mas não derrubando o prédio de feridas construído em cima dele.

A história real, o segredo da humanidade, é que Deus criou o homem para estar perto Dele. Ele não disse que estaria dentro do homem, mas sim que entraria na casa de quem O convidasse. No Antigo Testamento, a vida era embasada na lei. Sacrificar alguns carneiros já era forma de demonstrar devoção. Ser religioso bastava. Mas após o filho de Deus passar pelo mundo, temos de ser mais sinceros. A cura virou questão de querer. Enquanto você tenta achar explicações para a doença que assolou sua casa, Ele se oferece a curá-la. Enquanto você justifica o fim do casamento, Ele diz que será o seu marido. Enquanto você procura em doutrinas o seu futuro, Ele diz para você não temer, se despir, confiar. A água do mundo molha a boca, mas fonte de água viva mata a sede de toda a alma.

Adão se justificou, mas ainda que convencesse alguém continuaria podre por dentro. Salomão, depois de uma vida com fartura e prosperidade, questionou “do que valeu a minha sabedoria?”. Viver sem foco, é verdade, é como correr atrás do vento. O maior pecado é a autossuficiência, pois se Deus quer relacionamento, querer viver sozinho é uma afronta a ele. Esse foi o erro de Lúcifer.

Temos que procurar estar protegidos, não de argumentos de livros ou psicologia popular, porque a Letra mata. Mas pelo argumento vivo, pelo Verbo que se fez carne, porque o espírito vivifica. Deus não está em todo o lugar, mas isso não significa que Ele esteja longe. Ele também não castiga ninguém, tudo de ruim o que acontece é brecha nossa. Só é necessário se prevenir, se submeter ao “Encantador” antes de ser mordido, pois depois, não há nada do que se possa fazer. 

terça-feira, 9 de abril de 2013

Casamento

O maior exercício a que um homem pode se submeter chama-se casamento. Vai da Gilette no lugar errado, passando pelo lado da cama preferido, seguindo pela dificuldade diária de acordar. Sem ofensas, acredito que seja um derrotado quem não se permite ser moldado pela rotina a dois. O filósofo disse que “o casamento é a única aventura ao alcance dos covardes”. Quanto à eternidade deste compromisso há controvérsias. A sociedade está desacreditada. Ouse falar disso em uma mesa de bar e escutarás “Não existe nada eterno!”. O máximo que chegam é no “Eterno enquanto durou”. Como se nós, na nossa infinita necessidade de receber pudéssemos infiltrar outro eu dentro de nós e, de um dia pro outro, retirá-lo pacificamente.

Acredito que o casamento começa no namoro, assim como a personalidade de uma criança se forma desde o ventre. Mas o triste é que o divórcio às vezes começa ao mesmo tempo em que o casamento. Cegos por um grande sentimento, o casal esquece que aquela ocitocina (o chamado ‘hormônio do amor’) não dura minutos ou dias após o primeiro contato, tampouco para um compromisso eterno. Pela falta de combustível, o carro morre.

Sei que o pudor, a castidade e a sinceridade se tornaram, ironicamente, pecados capitais neste século. Mas a troca da perda do frêmito inicial por uma possibilidade de encontrar novas emoções é uma opção no mínimo inteligente. C.S. Lewis explica isso maravilhosamente quando diz que “Não vale a pena tentar manter viva uma sensação forte e fugaz [...] Se fizer das emoções fortes a sua dieta diária e tentar prolongá-las artificialmente, elas vão se torná-las cada vez mais fracas, raras, até você virar um velho entediado e desiludido para o resto da vida”. A falta de dosagem, na verdade, é mais comum do que pensamos. Uma mulher que entrega todo o seu mistério na primeira noite, comparável a um menino que, atrás de novidades, experimenta drogas. Exagero? A raça humana corre atrás de sensações o tempo todo.

Jesus tinha a mesma formação cerebral, emocional e física que nós. E só não se tornou uma pessoa traumatizada, medrosa, infeliz, pois soube proteger sua emoção. Ele sabia em quem estava acreditando na sua vida inteira, conseguia olhar anos-luz a sua frente e acreditar em Quem lhe prometera um renascimento. E o que é o casamento além de renascer? Tentar olhar à frente? Ninguém se casa para separar! Nos casais cristãos, a falta de fôlego da paixão desenfreada é substituída por uma respiração dosada. Entendemos que a vontade vai passar, o glamour de dividir a cama e a vida vai ser testado. Digerimos que aquele frisson não é confiável.

Quem dera fôssemos tão seguros quanto Jesus foi. A sociedade teria prazer em assinar um “termo de renascimento” – Lê-se casamento civil. Gritar pro mundo que se pertencem, ser feliz em dizer que tomou para si a família do outro e ter a identidade (o RG e a emocional) modificada. Nossos pais também seriam melhores e assim as referências seriam mais sólidas. Dois se tornariam um naturalmente, o difícil seria separar, e não conviver. Seríamos dignos de tornar o agora eterno, pelo valor que haveria dentro de nós.

Comigo é assim. O fantasma da rotina não nos persegue, pois quando olhamos para Deus, não olhamos para as circunstâncias e vice-versa. Nosso alvo é outro, casa, carro e filhos serão consequências. Procurei, como diz o estudioso, ser uma mulher tão próxima de Deus que o meu amado tivesse que ir perseguir o Rei para me encontrar. E nessa história, quem se aproximou do Pai fui eu. Tive que me transformar a ponto ser alguém digna do eterno. Nos tornamos marido e mulher, mas irmãos em Cristo também. Temos o mesmo Pai cuidadoso. A mesma carne: doeu nele, doeu em mim. O mesmo foco, que não observa paisagem, tempo ou ocasião, pois se essa união dependesse de nós, falharíamos e estaríamos vulneráveis. É Deus, porém, que nos mantém unidos, por um propósito de tanto amor, que não caberá em nós. É isso que nos faz um. É isso que se chama felicidade.