segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Porque eu sou cristã

Algumas coisas têm me feito relembrar meu caminho espiritual. Eu nunca fui atrás de bênçãos. Também não foi uma dor que me levou até Deus. A questão divina era tão neutra pra mim que jamais me tirou noites de sono, como tira aos questionadores. Eu, como qualquer pessoa, buscava felicidade. Encaixe entre os meus desejos e os acontecimentos. Dentre tantas outras características minhas, uma era não caber em doutrina nenhuma.Mas aí hoje, pensando bem, percebo que ninguém caberia por tamanho. A complexidade de uma pessoa não cabe numa caixinha. A vida é a soma de tantas coisas... genética, sorte, criação, história, experiências. Já pensou em quantas pessoas passaram por situação de morte e – só – por isso buscaram religiosidade? Realmente, existem vários tipos de fé. Ateus podem ser espirituais no seu dia a dia. Porque o ser humano tem predisposição a crer – é como um DNA comum. Também acredito no poder da caridade. Dá lucidez perante o mundo. Existem céticos lindos e cristãos que até o diabo teria inveja. Isso é natural em qualquer instituição – religiosa ou não.

Acontece que quando o discurso amplo, comum nas mesas redondas de religiões, é abafado por uma conversa ao pé do ouvido com Deus – uma experiência individual – você entende que apesar de ser algo particular, acontece com muita gente. E nunca é comum. Você observa pessoas, cada qual com suas mochilinhas cheias de experiências e sentimentos, falando sobre o mesmo Deus – e apontando os mesmos milagres, e largando os mesmos vícios, e sentindo a mesma liberdade, e narrando a mesma nova vida. O que se chamaria religião é, na verdade, uma reunião de experiências individuais em uma só voz. E a conversão (que significa mudança de sentido) é o exato momento em que resolve qual voz seguir. No meu primeiro encontro, não me lembrei das antigas dúvidas e nem pensei muito. O que entendi – e se sustenta até hoje – é que a fé no filho de Deus me levou a conhecer territórios que a fé na vida nunca me levou, em chão plano e seguro. Entendi que queria morar ali pelo resto da vida.


Eu não escolhi ser cristã, fui constrangida pela experiência que tive. Entendi que dentro dessa caixinha se encontrava um mundo cheio de sentido, o qual fez no meu coração tudo se tornar explicável, desde a criação do universo até os meus desejos pessoais. Eu sou cristã, porque foi isso que me libertou da ânsia pelo futuro, da escravidão da adivinhação e do tabu da morte, para que não buscasse previsões ou explicações, para que a vida mantivesse os mistérios combustíveis do dia-a-dia, necessários ao exercício de fé tão importante para o ser humano, para que a vida não se tornasse transparente. Deus me fez entender que mais forte que o big bang é a força humana, que roda o mundo em busca da felicidade. Mais importante que a caridade com o outro, é ter piedade de si mesmo. O cristianismo me explicou ao pé do ouvido tudo o que eu precisava saber sobre a vida. E o que não foi explicado, tenho no meu coração que não se faz necessário saber, pois está sendo cuidado por Quem sempre perto está. Não é questão de sentimento: se fosse, qualquer objeto digno de fé seria eficiente. É questão de resultado. O maior mergulho de fé que dei na vida foi com Jesus, porque foi o único onde voltei à tona com uma vida nova.

terça-feira, 25 de junho de 2013

A árvore do conhecimento - "O Senhor está perto de todos os que o invocam, de todos os que o invocam com sinceridade” Sl. 145




'O bem, quando amadurece, se mostra cada vez mais diferente,
não só do mal, mas de qualquer outro bem.'
-'O mal pode ser desfeito, mas não pode "transformar-se" em bem.'




Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, para que Seus valores fossem embutidos neles. O que nos difere de todas as outras criaturas é a herança genética divina, que são a consciência, a capacidade de sentir, raciocinar e analisar. Adão lidava com Deus diariamente, tinha alimento, companhia, felicidade. Deus o acompanhara. Por isso, o Pai aconselhou que não comessem o fruto proibido da árvore do conhecimento, porque sabia que o fator sentimento e o próprio sentido visão configuravam um risco. O que tinha uma via boa, poderia ser usada para o mal. A serpente é definida como um “animal selvagem”, “astuto”, que tem por definição característica de quem consegue obter privilégios para si e não se deixa enganar; quem pratica a maldade enganando outras pessoas. O astuto então engana, mas não é enganado. Esse é o mal: selvagem, porque nos convence da veracidade dos nossos instintos. E astuto, porque conhecendo esse instinto constrói mentiras em cima dele.

Deus pede que não comam do fruto proibido. Eva olha para a árvore, tem o paladar aguçado e se sente atraída pela fruta. Responde por si própria, quando até ali tinha vivido com Alguém guiando com amor os seus passos. A questão ali era: Se você me ama e não pode me provar, qual a eficácia desse amor? Acatar a decisão do outro mesmo sem entender consiste em exercitar a confiança e por à prova esse amor. Amor pressupõe liberdade, porque é na liberdade que os sentimentos maravilhosos acontecem. Deus precisava doar essa liberdade para conceder ao ser humano o acesso ao amor. Mas também precisava ter segredos para que a fé fosse de fato “a certeza das coisas que não se veem”. E para que Ele pudesse sempre estar por perto, completando o que faltasse, dizendo o caminho, colocando segurança onde há inconstância, já que somos tão incoerentes (Como Adão e Eva) em tudo o que fazemos.

Democratizar o conhecimento divino, então, seria como dar pérola aos porcos. É dar uma pinça médica a quem não é cirurgião. Porque, no fundo, somos bichos. Que respondem às maiores e menores vontades sem pensar no depois. Nem tudo o que se sente, por se sentir, é bom. O que nos faz gente é o DNA de Deus. O que nos faz gente completa, inteira, feliz então, é fazer a vontade de Deus. A fé da humanidade hoje se resume em buscar evolução, mas pouco se fala em arrependimento, em voltar atrás. Cavam-se acessos às explicações sobre a morte, respostas em adivinhações, quando tudo na verdade está ao alcance da oração, exceto o que está fora da vontade de Deus. Somos pessoas cheias de ferramentas para prever o futuro, mas sem pulso para resolver o presente. No momento ruim de Eva e Adão, conhecer o bem e o mal não amenizou o sofrimento, tampouco as consequências futuras.

A verdade é que nada no mundo foge da influência de Deus: é sempre modificado pela sua presença, ou até mesmo por sua ausência. E ausência se resolve com presença. A vida é uma tentativa cíclica de diminuir a distância entre o que se sente e o que se vive. E coerência emocional é para poucos. Deus é o descanso do nosso instinto predador, curioso, inconstante. Quando se conhece o caráter de Quem conduz o carro, podemos fechar os olhos e aproveitar a viagem, sem requerer maiores argumentos. “O segredo do SENHOR é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua aliança”. Adivinhação é uma afronta para o Deus vivo, que se dispõe a passear pelo jardim com você. Deus reconciliou o mundo consigo através de Jesus. O véu que existia, atrapalhando esse perdão, foi rasgado. O termo “aceitar Jesus” passou por muitas banalizações, mas no fundo é dizer “Pai, eu quebro meu vínculo com essa raça que está padecendo. Quero fincar minhas raízes em quem venceu o mundo. Não tenho mais coluna para suportar tanta inconstância. Se por minhas mãos conquisto o que me faz feliz, amanhã já sou eu que mudei e quero outra coisa. Eu não sou grande o suficiente para administrar o risco de viver uma vida inteira desejando a árvore errada. A água da minha própria cisterna nunca matou minha sede por completo”.

“Comerão do fruto da sua própria conduta e se fartarão de suas próprias maquinações. Pois a inconstância dos inexperientes os matará, e a falsa segurança dos tolos os destruirá. Mas quem Me ouvir viverá em segurança” (Prov. 1/31-33).

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Have Faith

Quando alguém não sabe explicar algo, diz que só resta a fé. Como crer fosse a atitude do desesperado diante de uma circunstancia em que fica imponente. Como se não fosse fruto de uma convicção inabaláveis que transcendem a obviedade.

Fazemos parte de um mundo entorpecido de religiosidade, afirmando sutilmente que a fé faz sentindo ainda que não seja compreendida de maneira ampla, ou que não possa ser explicada razoavelmente àqueles que não tem. Parece que o conceito antropológico de fé passou a significar "aquele que acredita em algo mesmo que isso esteja incorreto' Enquanto a vivencia coerente das Escrituras Sagradas apontam para outra direção. Ou seja, se não compreende algo, então NÃO FAÇA. Pois o compreender é mais importante do que o fazer.

Nesse mundo cheio de Wikipedia, Youtube, Blogs e Revistas de fofocas, fica cada vez mais complicado afirmar que as certezas das pessoas são baseadas em convicções racionais. Quanto mais certeza alguém afirma ter, mais superficial costuma ser a raiz intelectual disso. Como então falarmos de convicções no meio destes tiroteio de informações? Talvez esteja na ora de pararmos para revisar quais são nossas fontes confiáveis. Afinal crermos em que?

Enquanto o cristianismo enlatado domina a mídia, nos envenenamos de conceitos equivocados. Aquele zelo pelas coisas de Deus é substituido pelo "não devemos julgar". Preferimos acreditar que não é preciso olhar para os homens. Mas que mais importante é olhar pra Deus. E a fé das pessoas é confundida na medida em que passamos a ter super-homens-de-Deus que não mais Judas Iscariotes do que o original.

Também prometemos coisas que Deus nunca prometeu. Saúde, carros, casas, viagens, conforto... E quando o Senhor obviamente NEGA seu favor para atender a tais clamores, então ouvimos um "VOCÊ NÃO TEVE FÉ". Cuidado! Estão tentando transformar a fé genuína em positivismo. Acredite, isto nada tem a ver com o propósito de Deus. Pensamentos positivos não tem o poder nem para segurar uma diarréia, quanto mais para transformar a vida de alguém.

A fé que funciona é baseada no sólido fundamento. A palavra de Deus revelada ao homem. Ela não é refém de nossos interesses e nem mesmo depende do quanto nos sentimos dispostos ou não.

Para sermos justos, basta procurarmos viver a justiça. E a justiça é a vontade de Deus. Se a nossa fé é incapaz de fazer Deus mudar de opinião, por outro lado ela é totalmente suficiente para mudar a nós mesmos. Ou seja, eu creio que estou sempre errado, enquanto o Criador está sempre certo. Minha oração não muda a Deus nunca. Mas eu mudo. E junto comigo, tudo que está ao meu redor.

Porque o Senhor falou, eu creio.Porque entendo, vivo. Porque vivo, reparto.

A fé que muda o mundo é sólida, racional e movida a íntima paixão. É a que se move na direção do necessitado e do desesperado. É a que nega Nietzsche, mostrando que somos os mais fortes quando damos nossa vida pelos mais fracos. Porque SABEMOS que para isso nascemos.

ESTA É A NOSSA FÉ. - Ariovaldo Junior.

terça-feira, 4 de junho de 2013

‘’Se a cobra morder antes de ser encantada, para que servirá o encantador?”

 Certo autor tem uma série de livros que trata sobre as características marcantes da personalidade de Jesus. E uma das que mais me chama atenção é a forma como protegeu seu emocional. O livro lembra um detalhe importante: Jesus trabalhava como marceneiro, utilizando as ferramentas – prego, martelo, madeira – que um dia o matariam. Imagine só o que é acordar, ir até o quintal de sua casa começar suas atividades, quando um insight te diz dia e hora da sua morte. Um bom começo para um trauma gigante, já que Ele era feito de carne e osso como nós, não é?

Jesus sofreu também a dor da traição, mas teve sabedoria para não gerar trauma no traidor, pois sabia até onde aqueles corações aguentavam – Judas se suicidou por remorso, e não arrependimento, se tivesse se arrependido, teria sido perdoado.E nós, como lidamos com as nossas avarias? Existem pessoas tentando comprimir no tamanho de uma frase o resultado de um universo inteiro, feito de escolhas próprias, consequências externas e, principalmente, de onde se deposita a fé vital. Eclesiastes diz que “o tempo e o acaso afetam tudo”, é verdade, mas o ponto onde você olha importa muito mais do que o trajeto que o fará chegar até lá. O que impulsiona a sua vida?

Mães que justificam a doença dos filhos, mulheres e seus casamentos falidos, pessoas traumatizadas, gente que tem pavor da morte. Estou falando de pessoas que quando falam o nome "Deus", na verdade se referem a vida em geral. E vida inclui nossos erros, desequilíbrios, falta de foco - percebe como Deus pouco tem a ver com isso? São no ombro dessas pessoas que o passarinho da insensatez pousa e, com explicações medíocres, finge amenizar o sofrimento, assentindo de que ele existe, mas não derrubando o prédio de feridas construído em cima dele.

A história real, o segredo da humanidade, é que Deus criou o homem para estar perto Dele. Ele não disse que estaria dentro do homem, mas sim que entraria na casa de quem O convidasse. No Antigo Testamento, a vida era embasada na lei. Sacrificar alguns carneiros já era forma de demonstrar devoção. Ser religioso bastava. Mas após o filho de Deus passar pelo mundo, temos de ser mais sinceros. A cura virou questão de querer. Enquanto você tenta achar explicações para a doença que assolou sua casa, Ele se oferece a curá-la. Enquanto você justifica o fim do casamento, Ele diz que será o seu marido. Enquanto você procura em doutrinas o seu futuro, Ele diz para você não temer, se despir, confiar. A água do mundo molha a boca, mas fonte de água viva mata a sede de toda a alma.

Adão se justificou, mas ainda que convencesse alguém continuaria podre por dentro. Salomão, depois de uma vida com fartura e prosperidade, questionou “do que valeu a minha sabedoria?”. Viver sem foco, é verdade, é como correr atrás do vento. O maior pecado é a autossuficiência, pois se Deus quer relacionamento, querer viver sozinho é uma afronta a ele. Esse foi o erro de Lúcifer.

Temos que procurar estar protegidos, não de argumentos de livros ou psicologia popular, porque a Letra mata. Mas pelo argumento vivo, pelo Verbo que se fez carne, porque o espírito vivifica. Deus não está em todo o lugar, mas isso não significa que Ele esteja longe. Ele também não castiga ninguém, tudo de ruim o que acontece é brecha nossa. Só é necessário se prevenir, se submeter ao “Encantador” antes de ser mordido, pois depois, não há nada do que se possa fazer. 

terça-feira, 9 de abril de 2013

Casamento

O maior exercício a que um homem pode se submeter chama-se casamento. Vai da Gilette no lugar errado, passando pelo lado da cama preferido, seguindo pela dificuldade diária de acordar. Sem ofensas, acredito que seja um derrotado quem não se permite ser moldado pela rotina a dois. O filósofo disse que “o casamento é a única aventura ao alcance dos covardes”. Quanto à eternidade deste compromisso há controvérsias. A sociedade está desacreditada. Ouse falar disso em uma mesa de bar e escutarás “Não existe nada eterno!”. O máximo que chegam é no “Eterno enquanto durou”. Como se nós, na nossa infinita necessidade de receber pudéssemos infiltrar outro eu dentro de nós e, de um dia pro outro, retirá-lo pacificamente.

Acredito que o casamento começa no namoro, assim como a personalidade de uma criança se forma desde o ventre. Mas o triste é que o divórcio às vezes começa ao mesmo tempo em que o casamento. Cegos por um grande sentimento, o casal esquece que aquela ocitocina (o chamado ‘hormônio do amor’) não dura minutos ou dias após o primeiro contato, tampouco para um compromisso eterno. Pela falta de combustível, o carro morre.

Sei que o pudor, a castidade e a sinceridade se tornaram, ironicamente, pecados capitais neste século. Mas a troca da perda do frêmito inicial por uma possibilidade de encontrar novas emoções é uma opção no mínimo inteligente. C.S. Lewis explica isso maravilhosamente quando diz que “Não vale a pena tentar manter viva uma sensação forte e fugaz [...] Se fizer das emoções fortes a sua dieta diária e tentar prolongá-las artificialmente, elas vão se torná-las cada vez mais fracas, raras, até você virar um velho entediado e desiludido para o resto da vida”. A falta de dosagem, na verdade, é mais comum do que pensamos. Uma mulher que entrega todo o seu mistério na primeira noite, comparável a um menino que, atrás de novidades, experimenta drogas. Exagero? A raça humana corre atrás de sensações o tempo todo.

Jesus tinha a mesma formação cerebral, emocional e física que nós. E só não se tornou uma pessoa traumatizada, medrosa, infeliz, pois soube proteger sua emoção. Ele sabia em quem estava acreditando na sua vida inteira, conseguia olhar anos-luz a sua frente e acreditar em Quem lhe prometera um renascimento. E o que é o casamento além de renascer? Tentar olhar à frente? Ninguém se casa para separar! Nos casais cristãos, a falta de fôlego da paixão desenfreada é substituída por uma respiração dosada. Entendemos que a vontade vai passar, o glamour de dividir a cama e a vida vai ser testado. Digerimos que aquele frisson não é confiável.

Quem dera fôssemos tão seguros quanto Jesus foi. A sociedade teria prazer em assinar um “termo de renascimento” – Lê-se casamento civil. Gritar pro mundo que se pertencem, ser feliz em dizer que tomou para si a família do outro e ter a identidade (o RG e a emocional) modificada. Nossos pais também seriam melhores e assim as referências seriam mais sólidas. Dois se tornariam um naturalmente, o difícil seria separar, e não conviver. Seríamos dignos de tornar o agora eterno, pelo valor que haveria dentro de nós.

Comigo é assim. O fantasma da rotina não nos persegue, pois quando olhamos para Deus, não olhamos para as circunstâncias e vice-versa. Nosso alvo é outro, casa, carro e filhos serão consequências. Procurei, como diz o estudioso, ser uma mulher tão próxima de Deus que o meu amado tivesse que ir perseguir o Rei para me encontrar. E nessa história, quem se aproximou do Pai fui eu. Tive que me transformar a ponto ser alguém digna do eterno. Nos tornamos marido e mulher, mas irmãos em Cristo também. Temos o mesmo Pai cuidadoso. A mesma carne: doeu nele, doeu em mim. O mesmo foco, que não observa paisagem, tempo ou ocasião, pois se essa união dependesse de nós, falharíamos e estaríamos vulneráveis. É Deus, porém, que nos mantém unidos, por um propósito de tanto amor, que não caberá em nós. É isso que nos faz um. É isso que se chama felicidade.

terça-feira, 5 de março de 2013

“O espírito do homem é a lâmpada do Senhor, que esquadrinha todo o interior até o mais íntimo do ventre.” – Pv. 20:27

Li esses dias em uma capa de livro que “Não sou ateu, pois não tenho tanta fé para isso”. No padrão textual a palavra ‘ateu’ geralmente vem acompanhada de ‘cético’, que quer dizer descrente, portanto essa frase não teria nexo. O fundo de sentido está em observar alguém acreditar que um lugar onde tudo é perfeitamente encaixável – a gestação, a fotossíntese, os idiomas, a água doce ou qualquer outro milagre cotidiano – não ser regido por uma força maior é algo que exige mais crença do que acreditar de fato em Deus. Digo isso, porque nessas questões existenciais tenho a sensação de que sempre acabamos chegando a um discurso racionalista, como se o planeta inteiro fosse ser acertado em uma mesa redonda.


O fato é que até mesmo as maiores teorias filosóficas, biológicas e sociais não esclarecem a natureza do homem. O filósofo X diz que o homem nasce puro, e o filósofo Y diz que o homem já nasce ruim. Nenhum consenso, nenhuma verdade. Aquilo mal sai da teoria e jamais chegará ao dia-a-dia, ao viver. Quando falo de NATUREZA, também não falo de uma convenção social. Esta, é aprendida ou não – se você morar numa ilha deserta, certamente não será tão boa em matemática quando um urbano, por mais esforço que tenha. A tal NATUREZA é algo intrínseco, forte ao ponto de ser unitário. Em todos os países, por exemplo, existem algumas diferenças de culturas, mas muitas similaridades no que diz respeito a uma verdade absoluta, um conjunto de valores que se encontram independentemente das fronteiras. Quando a diferença é brusca, aliás, somos os primeiros a comparar, subentendendo-se que uma é melhor/pior do que a outra... Aí eu pergunto: que parâmetro é esse tão transparente a ponto de ser imperceptível? Que força é essa? 


Indo mais adiante, porque, em um mundo tão completo e cheio de recursos de estudos, tratamentos e curas, a nossa humanidade ainda está tão longe da plenitude? Obviamente, alguma coisa está faltando. A interrogação está dentro de nós, fazendo os dias se arrastarem numa vida sem propósito. A existência se torna um beco sem saída. Mesmo com as descobertas humanas a respeito da alma, ainda falta algo. 

Além da alma, porém, existe o espírito. O espírito é aquele difícil de ser diferenciado – ‘qual a diferença entre espírito e alma?’, perguntam as pessoas. É o objeto desconhecido, o fim da busca interior. Aquele inalcançável pelas próprias mãos, por mais dedicação que aconteça. A fome pela verdade é um dos sintomas de um espírito querendo nascer. E existe um caminho secreto que te faz ser espírito, nascer do espírito. O espírito foi feito para comportar o próprio Deus. Li que ‘a mente é capaz de pensar, mas só o Espírito é capaz de se comunicar com Deus’. Deus é um espírito. E é ele o responsável por essa natureza que grita querendo justificativa, algo sem nome, forte, mas indefinível. 



O que concluo é que Deus não só está perto, como dentro de nós - é como um DNA, e seu nível de presença determina nossas tendências para o bem ou o mal. Essa revelação é vivida todos os dias, quando o Sol nasce. Não pelo Sol em si, mas pela chance renovada de viver (‘Pois as Suas misericórdias são inesgotáveis, renovam-se a cada manhã’ – Lam. 3). Com esse exemplo entendemos que tudo têm explicação diante de Deus. Que Ele está entre nós, nos fazendo ver valor nas relações, admirando surpresas e chorando em filmes. Deus se manifesta através de nós, e a lâmpada pode brilhar mais – ou menos, dependendo de sua proximidade Dele. Essa NATUREZA que está dentro de nós é o espírito que atrai Deus, que só encontra respostas Nele – no 2º parágrafo, substitua as palavras ‘natureza’ por 'Deus' e veja só. 

Ele está mais perto do que parece. E faz a vida poder ser doce ou amarga. Nossos maiores questionamentos não usam nem 5% da nossa capacidade cerebral, já a nossa capacidade de ser leal, feliz, útil, amoroso, sincero são inesgotáveis – e vêm de uma fonte só: Deus. Ele fala através de nós, e um espírito sedento é um pré-requisito para O conhecermos cara a cara.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Porque eu não sou um ateu - C.S. Lewis


"Meu argumento outrora contra Deus era que o Universo se parecia  tão cruel e injusto que Deus não poderia existir. Mas afinal, como eu consegui esse pensamento de Justo e Injusto? Na verdade, ninguém pode chamar uma linha de torta, ao menos que esse alguém tenha uma ideia em sua mente do que é verdadeiramente uma linha reta. Então com o que exatamente eu estava comparando esse Universo quando o chamei de injusto? Bem, se tudo demonstrava que o cosmos era mal e sem sentido, de A até Z, então não poderia responder a mim mesmo o porquê de ter me encontrado com tal reação de violência contra o próprio Universo. Um homem não se sente molhado quando ele cai dentro da água simplesmente porque não é um animal marinho: Um peixe não pode se sentir molhado.  

De fato eu poderia ter desistido da minha ideia de "Justiça" por afirmar que ela não era mais uma ideia privada que cabe somente a mim mesmo, mas se eu admiti isto, logo meu argumento contra Deus foi por água a baixo, pois o argumento dependia de dizer que o mundo era realmente injusto, não apenas para que isto venha a agradar minhas fantasias privadas. Então o meu ato para tentar provar que Deus não existe, em outras palavras, que tudo na realidade era sem sentido, entraram em colapso. Agora não havia outro jeito, admiti e assumi que uma parte da realidade, a saber minha ideia de justiça, tinha todo sentido do mundo.

 E por consequência, o Ateísmo acaba por ser simples demais, pois se tudo o que há no universo não tem significado, nunca teríamos conseguido descobrir que não há sentido nele, por exemplo: se não havia Luz no Universo, então as criaturas não teriam olhos, nunca saberíamos que isso estava escuro ou que aquilo estava claro, tudo na escuridão seria sem significado. A palavra ‘escuro’ não faria sentido."





terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Só os loucos sabem...


“Ele respondeu: ‘Se vocês tiverem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderão dizer a esta amoeira: ‘Arranque-se e plante-se no mar’, e ela obedecerá.”

Essa semana, o mundo evangélico está sobrecarregado por um turbilhão de críticas ferrenhas, elogios inesperados e pessoas loucas para opinar em relação à entrevista concedida pelo Pr. Silas Malafaia à jornalista Marília Gabriela. Eu particularmente posso dizer que tenho lido absurdos dos dois lados da história – a razão nem sempre está certa, dependendo de como ela é defendida. O ponto é que quando os ensinamentos bíblicos são criticados com tanta destemperança, falta de intimidade (como se aquilo fosse de outro mundo), nada se assustam os cristãos de verdade, creio eu.

Afinal, como já disse no último texto, o cristianismo comprometido é o único caminho que deve ser tomado desde o início – ele não se adapta ou se encaixa no hoje, não é um ‘plus’ na sua vida cotidiana, e sim um nascer de novo: isto é, só é cristão quem nasceu de novo. E quem nasceu de novo tem passado e estrada, sabe o que é não crer, pois um dia já viveu assim. Sabe a sensação de tentar ler um livro com palavras rebuscadas, que fala de uma época que já passou – como a própria Marília Gabriela lembrou – e o que é como uma criança tentar encaixar as peças de um quebra-cabeça e não conseguir. Aquilo não faz sentido. É interessante, fala de moral, mas o que tem a ver com hoje, agora, 2013? Uma lacuna se abre, e se transforma em dúvidas, que geram negações. O pastor inglês John Piper diz que “A Bíblia não é um livro-texto a ser debatido. É uma fonte que satisfaz a sede espiritual e a fome da alma”. E aí a fonte que era para jorrar transformação, esperança, vira um texto. E textos são analisados, manipulados, não são poderosos, é verdade. Por isso a Bíblia fala que "Não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata e o Espírito vivifica”.

A fé é algo complicado mesmo. Como não seria? A definição bíblica é 'a certeza das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veêm'. Por isso, ela sempre fala exatamente o que as circunstâncias negam. Ela é invisível exatamente porque exige dedicação; é invisível, porque é contrária a tudo o que se vê com os olhos humanos. A fé cala as especulações, rende milagres aos que apostam enquanto os críticos discutem. Dá choro de alegrias enquanto a polêmica é analisada, e é  também o antídoto para as doenças do século: ansiedade e depressão. É alguém que diz ‘faz’ quando tudo diz ‘retenha, pode dar errado’. Sem fé, somos apáticos. Sem ela, somos iludidos de que a emboscada é na verdade um atalho. Ajudamos, nos compadecemos como uma forma de barganhar com Deus e nos sentirmos melhor, quando na verdade a fé é um dom gratuito. É presente de Deus pra humanidade e o caminho mais curto para a felicidade. (‘Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie’).  É entregar a alma, porque lá se encontram as feridas. Assumir a necessidade de alguém Maior que você comandar a sua vida. É dar um cheque em branco assinado nas mãos de quem carregou o pecado da humanidade nas costas– e agora te carrega também.

Ser cristão é fácil e difícil ao mesmo tempo: difícil porque para haver vida nova, deve haver primeiramente destruição. Jesus disse que quem viesse após Ele teria que tomar a própria cruz e negar-se a si mesmo; e fácil porque uma semente de mostarda é algo muito pequeno diante da infinidade de coisas que cobram nossa fé nesse mundo doido, e dentro de nós principalmente. Vale lembrar que sem a destruição, o lindo jardim não seria possível. Esse jardim é o espelho de uma relação saudável entre Pai e filho. Como escrevi certa vez, o ser humano não precisa de explicações, teorias ou argumentos - as maiores não usam 5% da nossa capacidade cerebral. Precisamos de cura, colo, entendimento e razão de vida. Newton nunca foi questionado quanto à gravidade, assim como Jesus não deve ser confrontado com as questões da alma. Ele  oferece ser pai para o órfão, marido para a viúva e médico para o doente. Isso, nenhum filósofo nunca ofereceu. Parece loucura, mas é isso mesmo. Chegamos na era que a bíblia previu, quando 'os loucos confundirão os sábios'. É provar e se apaixonar, ou viver o resto da vida procurando seu encaixe perfeito.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Pingos nos I's


Certa vez, li de um autor que eu gosto muito que é inaceitável a ideia de que Jesus tenha sido um mestre moral, ou que se equiparem as coisas que ele disse ao que filósofos como Platão, por exemplo, disseram, não por que ‘seguir o que Jesus disse é melhor’, mas sim porque a vida com Ele não é uma doutrina, e sim uma morte (isso mesmo, morte) para viver o que Ele quer. Isso por que Jesus não deixou brechas a ser visto como nada além do filho de Deus, e se pudesse definir a relação mundo x evangelho em uma frase seria ‘só não enxerga quem não quer’. Mas com toda a responsabilidade a nós concedida, temos que sentar e pensar: é uma relação composta por 02 partes. Se o problema não está no Evangelho, só pode estar no ser humano. E o que complica essa história é a tal da interpretação. Diz a Palavra de Deus: ‘Vos tirarei o coração de pedra, e vos darei um coração de carne’. Se pensarmos de imediato que o coração de pedra é aquele que move os crimes frios, por exemplo, chegaria à conclusão de que Ele não estaria se referindo à você nesse trecho, – afinal, você tem muitos defeitos, mas um coração duro não é um desses; e se na afirmação ‘Cristo está em nós’ você baixa a guarda da sua crítica e figura o que deveria ser levado ao pé da letra – ‘É uma forma de dizer que os ensinamentos de Jesus devem ser seguidos’, pensamos – é exatamente sobre essa tendência que eu quero falar.

Deus não deixou dúvida a respeito do que Ele quer de nós, mas nós sempre deixamos dúvidas sobre o que queremos Dele. Adoramos autoajuda, previsões de destino e explicações para o sofrimento terreno, mas tudo bem light, nada que quebre meus conceitos, heranças familiares e hábitos. Nada que me faça ser menos humano do que eu sou ou que me dê a obrigação de enxergar algo que terei que me diminuir para enxergar. ‘Eu não concordo com nada que venha desses tais humanos, porque a vida deles é completamente mal sucedida’, deveríamos pensar. Sobrevivemos a uma mãe desnaturada ou um pai alcoólatra, isso talvez seja bom. Mas será que é excelente? Todos nós somos e permanecemos o resto da vida acostumados com o morno se não nos submetermos à um Deus cheio de opinião e ciumento. Penso eu que os que usam a clássica frase ‘Deus está em tudo, eu não sigo religião’ já têm 50% de aprovação do pai, pelo menos, por não gostarem desse termo que rotula e é tão pesado: ‘religião’.

Muitas coisas são difíceis de ser digeridas na vida real, no dia-a-dia, por isso vou recorrer a um exemplo: O problema dessa filosofia de vida é que, na maioria das vezes, não encontramos livros em farmácias ou crianças em boates: é uma questão de contexto. Da mesma forma que se você marca um encontro com uma pessoa que não conhece e ela não fornece nenhuma característica física sobre si, ela pode passar por perto de você e você nem perceber. Mas quando essa pessoa dá os mínimos detalhes, talvez seja a sua má vontade que não permita percebê-la no meio da multidão. Pra mim, é assim com Deus. Ele foi categórico, disse a que veio e aonde o encontrar - ‘Eis que estou a porta e bato’ (!)-Já se passaram mais de 2.000 anos (uma mixaria se for pensar na humanidade como um todo), mas o que a humanidade faz com Deus é uma fofoca ingrata, que não se faz nem com o seu pior inimigo.

A vida com Ele não é ditadura, muito pelo contrário: você pode levantar a mão, interrompê-lo para tirar uma dúvida. Pode também desabafar: ‘Ei, não sei se estou falando sozinho, mas se tem alguém aí do outro lado, queria te falar: Eu nunca senti a sua presença’. O que não é digno para Deus é em cima de um edifício que é a sua história por meio de Jesus Cristo, as pessoas fazerem puxadinhos sem a permissão do dono do prédio, que foi construído a preço de sangue, de gente que perdeu a vida pelo evangelho e pelo principal, que é a terrível morte de Jesus. Vamos assumir: se a doutrina X se encaixa mais no que você quer pra sua vida hoje, agora, nada te impede disso. Se a doutrina cristã é muito pesada para você e adorar, se ajoelhar e chorar é ‘muito’, você também têm esse direito. Agora, se você não teve absolutamente nenhuma experiência divina, isso não significa que Deus não exista.

José Serra disse uma vez em um debate que ‘não se mede o outro com a sua própria régua’. Guardei isso pra vida, mas com uma exceção: não se pode ignorar que o regente dessa grande ópera que é o mundo tem algumas exigências. Todo ser humano tem valores, que não são de sua própria natureza. Há uma força moral que rege o mundo, que está acima de culturas, inconveniências ou divergências em relação ao que é certo e errado. Uma lei que nenhum de nós elaborou, mas nos sentimos obrigados a cumpri-la. Deus começa aí (mas isso é assunto para outro post). Nessa lógica, então, o mundo está escasso divinamente.

Não estamos em situação de rejeitar. Estamos por baixo, qualquer situação mal pensada vira uma catástrofe, os crimes são cada vez mais cruéis, as 'fatalidades' parecem cada vez mais elaboradas por uma mente dez vezes mais perversa do que a pior que já conhecemos na vida, é exagero? E nessas horas, Deus precisa ser encontrado em um lugar certo sim, afinal, que Chefe seria esse que some quando o bicho pega? Se Ele existe, ele tem endereço.  E um só. Uma energia tão forte assim não poderia estar tão espalhada a ponto de não ter força o suficiente.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A conta de subtração de Deus



'A emoção intensa que um garoto tem quando pensa em aprender a pilotar um avião não sobrevive quando ele se junta à Força Aérea, onde realmente vai aprender o que é voar. A palpitação de conhecer um lugar novo se esvai quando se passa a morar lá. Acaso estou querendo dizer que não devemos aprender a voar ou não devemos morar num lugar aprazível? De jeito nenhum. Em ambos os casos, se você perseverar, o arrepio da novidade, quando morre, é compensado por um interesse mais sereno e duradouro. Além disso (e mal consigo lhe dizer o quanto isso é importante), são exatamente as pessoas dispostas a sofrer a perda do frêmito inicial e acatar esse interesse mais sóbrio que têm maior probabilidade de encontrar novas emoções em campos diferentes. O homem que aprendeu a voar se tornou um bom piloto subitamente descobre a música; o homem que se estabeleceu num local idílico descobre a jardinagem. Segundo me parece, essa é uma pequena parte do que Cristo quis dizer quando afirmou que nada pode viver realmente sem antes morrer. Simplesmente não vale a pena tentar manter viva uma sensação forte e fugaz: é a pior coisa que podemos fazer. Deixe o frisson ir embora - deixe-o morrer. Se você passar por esse período de morte e penetrar na felicidade mais discreta que o segue, passará a viver num mundo que a todo tempo lhe dará novas emoções. Mas, se fizer das emoções fortes a sua dieta diária e tentar prolongá-las artificialmente, elas vão se torná-las cada vez mais fracas, raras, até você virar um velho entediado e desiludido para o resto da vida. E por serem tão poucas as pessoas que entendem isso que encontramos tantos homens e mulheres de meia idade lamentando a juventude perdida, na idade mesma em que os novos horizontes deveriam descortinar-se e novas portas deveriam abrir-se. É muito mais divertido aprender a nadar que tentar resgatar incessantemente (e inultimente) a sensação da primeira vez que chapinhamos na água quando garotos." C.S. Lewis - Cristianismo puro e simples

Por mais importante que seja a castidade (ou a coragem, ou a veracidade, ou qualquer outra virtude), esse processo de treinamento dos hábitos da alma é ainda mais valioso. Ele cura nossas ilusões a respeito de nós mesmos e nos ensina a confiar em Deus. Aprendemos, por um lado, que não podemos confiar em nós mesmos nem em nossos melhores momentos; e por outro, que não devemos nos desesperar nem mesmo nos piores, pois nossos fracassos são perdoados. A única atitude fatal é se dar por satisfeito com qualquer coisa senão a perfeição." C.S. Lewis - Cristianismo puro e simples

"O filósofo dinamarquês Sören Klerkegaard disse que um santo é aquele que quer uma só coisa. Ele estava falando do tipo de pessoa que sabe exatamente qual é o sentido da sua vida. Você tem a força da vida. Você tem estas energias dadas por Deus. E se não estão enfocadas e disciplinadas de formas realmente específicas, se estas energias não estão concentradas num alvo, nós perdemos o rumo. Elas ficam difusas e dissipadas, e se espalham tanto que não são tão fortes quanto poderiam ser. Mas quando você quer uma só coisa ou algumas coisas importantes, você está enfocando as suas energias. Eu ouvi alguém dizer que estava se afogando em coisas boas. Sabe, o oposto de melhor nem sempre é o pior. As vezes o oposto do melhor é o bom. É quando nos ocupamos tanto fazendo coisas boas que não sobra energia pra fazer uma só coisa: Uma coisa excelente." - Rob Bell

---------------------------------------------------------------------------------------------

Nada no evangélico é movido a 'religião'. Nem dogma. Nem regra. Assim como um professor não obriga um aluno a assistir aula, mas pode o alertar de que é melhor para ele permanecer na sala. Até porque, haja regra se fosse assim! Como 'regrar' um namoro? 'Regrar' uma saída, uma mesa de bar ou - o pior - uma língua! É tudo uma escolha: algumas vezes por dia nos deparamos naquela clássica cena de filme com 02 caminhos, e você escolhe um. Talvez um deles tenha mais farpas do que o outro. Talvez incomode muito, a ponto de gerar arrependimento. Talvez incomode só um pouco, vai saber. O certo é que nem as mães que estão no mundo obrigam os filhos a nada, imagine Deus, que está mais longe ainda. As "regras cristãs" muito debatidas - e confrontadas, e criticadas - são um doce manual para uma vida plena. Arrisco dizer - digo arrisco, pois sem quem me lê aqui no blog - que é um manual para felicidade. Felicidade que não é terrena, por isso, incompreendida. Se a felicidade comum não é palpável nem mensurável, a do espírito então, nem se fala. 

Já está provado que não é dinheiro, nem saúde, nem família, aliás, nem a junção desses três fatores é capaz de completar um homem. E olha que passamos a vida correndo atrás disso achando que ser a estrada para a segurança emocional. Portanto, concluo que enquanto estamos querendo expandir, agregar, Deus quer fazer uma conta de subtração, quer zoom gigante no que de fato importa. E tudo o que tiver em segundo plano é mandado embora, fazer o quê. O sexo sem contexto - e os namoros em vão, os 'chove, não molha' e toda a forma de acreditar que esse ato é somente físico; a fofoca - e a falta do que falar, falta do que cuidar, o querer abraçar o mundo e esquecer do próprio umbigo; o álcool - e toda a forma de fazer a manutenção do stress, dos problemas, sem que sejam confrontados, resolvidos - E por aí vai. Não é a castidade, nem a abstinência que dá felicidade, não. Também não é fórmula mágica, muito menos um ato social. Mas o espaço que fica quando são retiradas essas 'coisinhas básicas', ocupados pela companhia do Pai, é algo que não cabe em palavras. Você se hospeda no mundo, mas vive com a mente no céu. Eu não sei o que é bom pra você, mas o melhor pra mim - com toda a eficiência da palavra - foi seguir o passo-a-passo desse Cara. É certeiro e traz muito conforto.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Digo não porque já disse sim - um propósito de vida, uma receita de felicidade!


Rob Bell é um pastor digno de ser pesquisado. É um modelo diferente de líder, daqueles que questionam, vão até às últimas consequencias para provar a veracidade do que se diz. E em um vídeo falou sobre a vida moderna, a nossa falta de tempo para as coisas que realmente interessam e a nossa dedicação ao que não nos sacia. Ele usa o exemplo de Jesus como pessoa determinada,  gostei muito e acho que vale a pena ler!


"Parece que muita gente nunca para de se movimentar, correndo de lugar para lugar e de reunião para reunião tão ocupados. Porém a vida, de certa forma, está passando por eles. Há uma história sobre Jesus no evangelho de Marcos. Ele está numa aldeia chamada Cafarnaum, curando todas as pessoas, e no dia seguinte seus discípulos procuram por ele e o encontram sozinho e orando. E dizem a Ele: "Todos estão procurando por você!". Por que todos estavam procurando por Ele? Porque Ele andou curando pessoas. Consertando as coisas. Colocando tudo no lugar certo. E qual foi a resposta de Jesus? Ele diz: "Vamos embora. Vamos para outro lugar. Vamos às outras aldeias para eu pregar para eles também. Pois é por isso que eu vim." E Ele vai embora. A aldeia inteira quer que Ele fique, e Ele basicamente diz: "Nada disso. Tenho que ir."Essa era uma oportunidade de fazer algo bom, ajudar muitas pessoas, e Ele a recusa. Jesus não faz tudo ali. E o motivo disso é que Ele precisa seguir seu caminho. 
Ele não podia ser tudo para todo mundo. Ele tinha uma bússola. Uma orientação. 

Jesus diz "não" porque Ele já disse "sim" (ao trajeto que Deus queria que Ele percorresse). Então não é surpreendente que quando Seus discípulos O encontram, Ele está sozinho e orando. Ele estava rodeado de uma multidão cheia de expectativas quanto a Ele. E todas essas pessoas tinham opiniões muito definidas sobre o que Ele deveria fazer e para quem deveria fazer. Então Jesus se retira.
 Ele se recolhe para verificar a si próprio, ouvir a Deus, e assegurar que todas essas vozes não o tiraram de seu caminho. Você nunca vê Jesus fazer nada por obrigação. Nunca o ouve dizer, "Oh, acho que deveria fazer isso porque é o esperado". Essa é a tensão real nos evangelhos. Ele está disposto a desapontar a expectativa da multidão a fim de ser fiel aos objetivos que persegue. Ele não deixa a vontade dos outros interferir no seu rumo. Você nunca vê Jesus ficar estressado ou preocupado em desapontar as pessoas. Ou se preocupando com a opinião dos outros. Você se pega sempre dizendo, "Estou muito ocupado", ou "Tem muita coisa acontecendo"? Por quê? Examine a sua agenda. 

Ficar ocupado é uma droga que vicia muitas pessoas. Eu estava com a minha família, caminhando pela praia à beira do oceano. E meus filhos estavam correndo a nossa frente, descobrindo um monte de conchas. Mas não eram conchas inteiras, eram apenas fragmentos, pequenos pedaços de conchas. Eram impressionantes em complexidade e desenho. Mesmo assim eram só pedaços bem pequenos de estilhaços de conchas. E eu olhei a frente e vi uma imensa estrela-do-mar, balouçando pacificamente na água. E um dos meninos estava com aquele olhar, tipo, “ A estrela do mar é minha!” Então ele entrou na água, chegou a metade do caminho... Se virou e voltou. Nós dissemos a ele, “Qual é o problema? Vá pegar! Por que não faz isso?” Ele respondeu, “Não posso!”. E nós perguntamos, “Por quê?”. E ele disse, “Porque as minhas mãos estão cheias de conchas.” Você é assim? Tão ocupado fazendo tantas coisas que suas mãos estão cheias de conchas? E algumas delas, talvez todas, podem até ser boas, mas você é incapaz de agarrar a estrela-do-mar? Que você largue as suas conchas em busca de uma vida simples, disciplinada e enfocada. Que você só tente alcançar aquilo que Deus reservou para você. E que você seja como Jesus, capaz de dizer não porque já disse sim." – Rob Bell. 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Nadar contra a corrente...


A Bíblia fala de um romance entre um povo escolhido e um Deus que o escolheu. Como em um relacionamento comum, o que afetava diretamente um dos envolvidos influía indiretamente na relação, que balançava. Paulo, em sua carta aos romanos, explica muito bem a situação do humano mediante seus defeitos, limitações e qualidades, quando diz: "Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço”. Hoje, o espaço da nossa mente é ocupado por mídias, internet, televisão e devido ao tempo escasso – e às mentes cansadas, muitas vezes incapazes de processar algo sólido – o conteúdo oferecido é vazio. Isso vale para pobres, ricos, brancos e negros. Queríamos liberdade de expressão, e a tornamos uma forma de enfiar culturas distintas goela a baixo e ignorar o que é rotulado à medida que nos impede de fazer algo. Gosto da rispidez de Renato Russo quando ele fala “Vamos celebrar a estupidez do povo, nossa polícia e televisão”, acho que às vezes é necessário. 

Afinal, voltando ao foco do texto, temos uma situação mal resolvida aí. Quis dar o exemplo das nossas gerações, para podermos iniciar o raciocínio: imagina só que no Jornal Nacional, de dias em dias, fossem anunciadas profecias, difíceis de entender a princípio. Após um tempo, elas começam a ser cumpridas. Falam de um povo escolhido, os judeus, de um filho de Deus na terra, que viria para purificar o mundo. E quando Ele chega: guerra. Jesus está longe de toda a estirpe que o mundo julga que a igreja tem: não há relatos sobre sua aparência – aliás, as imagens muito usadas pelos católicos, dizem alguns históricos, são mentirosas, pois seria impossível um homem que frequentava desertos debaixo de um Sol escaldante ter olhos e pele clara - mas o livro de Isaías diz que “nele não havia formosura”. O cavalo branco, a pose de príncipe, a espada na mão... dispensável para o que dizia ser Deus. 

C.S. Lewis, poeta e escritor britânico, é muito sábio quando relata a observância de Jesus quanto ao jejum, hábito muito praticado pelos judeus. Ele diz: “Ninguém precisa jejuar enquanto eu estiver aqui”. Em um tempo de muitos dogmas, ele bate na mesa e diz que ‘não’. Em contrapartida, o ‘puro e santo filho de Deus’ foi capaz de ter contato com leprosos, defender prostitutas, amar viúvas, cuidar de cegos, abençoar mulheres estéreis: todos que viviam à margem de uma sociedade preconceituosa. Não porque consentia com seus erros, mas porque amava o ‘errador’. O Cristo desafiou a medicina, que na época dava os primeiros passos, com as curas milagrosas e a abordagem de vida eterna; abalou as estruturas sociais se apresentando com Rei, e lavando pés de simples galileus, invertendo os papeis sociais. Sofreu uma morte que lhe concedeu o direito de “jogar tudo para o alto”, mas permaneceu firme como uma rocha.

Entre Budas, Confúcios, Socrátes, Maomés, Cristo foi o único ao dizer “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”. Categórico, inovador e mestre no quesito “vida”. Inimigo do mundo, do sistema, do resultado da lei. Amigo da humanidade, observador do coração, defensor da Graça. Jesus é uma mudança brusca de roteiro de uma sociedade que, por querer pensar em unidade, não pensa. O pregador de uma justiça inimaginável aos olhos humanos. E o que ele quer de nós? Que os loucos confundam os sábios. Hoje, os loucos são seus seguidores, como sempre foram. Perseguidos, renegados, mas com vontade de mudar o mundo, que não mudou muito de 2013 anos para cá.