terça-feira, 9 de abril de 2013

Casamento

O maior exercício a que um homem pode se submeter chama-se casamento. Vai da Gilette no lugar errado, passando pelo lado da cama preferido, seguindo pela dificuldade diária de acordar. Sem ofensas, acredito que seja um derrotado quem não se permite ser moldado pela rotina a dois. O filósofo disse que “o casamento é a única aventura ao alcance dos covardes”. Quanto à eternidade deste compromisso há controvérsias. A sociedade está desacreditada. Ouse falar disso em uma mesa de bar e escutarás “Não existe nada eterno!”. O máximo que chegam é no “Eterno enquanto durou”. Como se nós, na nossa infinita necessidade de receber pudéssemos infiltrar outro eu dentro de nós e, de um dia pro outro, retirá-lo pacificamente.

Acredito que o casamento começa no namoro, assim como a personalidade de uma criança se forma desde o ventre. Mas o triste é que o divórcio às vezes começa ao mesmo tempo em que o casamento. Cegos por um grande sentimento, o casal esquece que aquela ocitocina (o chamado ‘hormônio do amor’) não dura minutos ou dias após o primeiro contato, tampouco para um compromisso eterno. Pela falta de combustível, o carro morre.

Sei que o pudor, a castidade e a sinceridade se tornaram, ironicamente, pecados capitais neste século. Mas a troca da perda do frêmito inicial por uma possibilidade de encontrar novas emoções é uma opção no mínimo inteligente. C.S. Lewis explica isso maravilhosamente quando diz que “Não vale a pena tentar manter viva uma sensação forte e fugaz [...] Se fizer das emoções fortes a sua dieta diária e tentar prolongá-las artificialmente, elas vão se torná-las cada vez mais fracas, raras, até você virar um velho entediado e desiludido para o resto da vida”. A falta de dosagem, na verdade, é mais comum do que pensamos. Uma mulher que entrega todo o seu mistério na primeira noite, comparável a um menino que, atrás de novidades, experimenta drogas. Exagero? A raça humana corre atrás de sensações o tempo todo.

Jesus tinha a mesma formação cerebral, emocional e física que nós. E só não se tornou uma pessoa traumatizada, medrosa, infeliz, pois soube proteger sua emoção. Ele sabia em quem estava acreditando na sua vida inteira, conseguia olhar anos-luz a sua frente e acreditar em Quem lhe prometera um renascimento. E o que é o casamento além de renascer? Tentar olhar à frente? Ninguém se casa para separar! Nos casais cristãos, a falta de fôlego da paixão desenfreada é substituída por uma respiração dosada. Entendemos que a vontade vai passar, o glamour de dividir a cama e a vida vai ser testado. Digerimos que aquele frisson não é confiável.

Quem dera fôssemos tão seguros quanto Jesus foi. A sociedade teria prazer em assinar um “termo de renascimento” – Lê-se casamento civil. Gritar pro mundo que se pertencem, ser feliz em dizer que tomou para si a família do outro e ter a identidade (o RG e a emocional) modificada. Nossos pais também seriam melhores e assim as referências seriam mais sólidas. Dois se tornariam um naturalmente, o difícil seria separar, e não conviver. Seríamos dignos de tornar o agora eterno, pelo valor que haveria dentro de nós.

Comigo é assim. O fantasma da rotina não nos persegue, pois quando olhamos para Deus, não olhamos para as circunstâncias e vice-versa. Nosso alvo é outro, casa, carro e filhos serão consequências. Procurei, como diz o estudioso, ser uma mulher tão próxima de Deus que o meu amado tivesse que ir perseguir o Rei para me encontrar. E nessa história, quem se aproximou do Pai fui eu. Tive que me transformar a ponto ser alguém digna do eterno. Nos tornamos marido e mulher, mas irmãos em Cristo também. Temos o mesmo Pai cuidadoso. A mesma carne: doeu nele, doeu em mim. O mesmo foco, que não observa paisagem, tempo ou ocasião, pois se essa união dependesse de nós, falharíamos e estaríamos vulneráveis. É Deus, porém, que nos mantém unidos, por um propósito de tanto amor, que não caberá em nós. É isso que nos faz um. É isso que se chama felicidade.