Algumas coisas têm me feito relembrar
meu caminho espiritual. Eu nunca fui atrás de bênçãos. Também não foi uma dor
que me levou até Deus. A questão divina era tão neutra pra mim que jamais me
tirou noites de sono, como tira aos questionadores. Eu, como qualquer pessoa,
buscava felicidade. Encaixe entre os meus desejos e os acontecimentos. Dentre
tantas outras características minhas, uma era não caber em doutrina nenhuma.Mas aí hoje, pensando bem, percebo que
ninguém caberia por tamanho. A
complexidade de uma pessoa não cabe numa caixinha. A vida é a soma de tantas
coisas... genética, sorte, criação, história, experiências. Já pensou em
quantas pessoas passaram por situação de morte e – só – por isso buscaram
religiosidade? Realmente, existem vários tipos de fé. Ateus podem ser
espirituais no seu dia a dia. Porque o ser humano tem predisposição a crer – é
como um DNA comum. Também acredito no poder da caridade. Dá lucidez perante o
mundo. Existem céticos lindos e cristãos que até o diabo teria inveja. Isso é
natural em qualquer instituição – religiosa ou não.
Acontece que quando o discurso
amplo, comum nas mesas redondas de religiões, é abafado por uma conversa ao pé
do ouvido com Deus – uma experiência individual – você entende que apesar de
ser algo particular, acontece com muita gente. E nunca é comum. Você observa
pessoas, cada qual com suas mochilinhas cheias de experiências e sentimentos, falando
sobre o mesmo Deus – e apontando os mesmos milagres, e largando os mesmos
vícios, e sentindo a mesma liberdade, e narrando a mesma nova vida. O que se
chamaria religião é, na verdade, uma
reunião de experiências individuais em uma só voz. E a conversão (que significa
mudança de sentido) é o exato momento em que resolve qual voz seguir. No meu primeiro encontro, não me lembrei das
antigas dúvidas e nem pensei muito. O que entendi – e se sustenta até hoje – é
que a fé no filho de Deus me levou a conhecer territórios que a fé na vida
nunca me levou, em chão plano e seguro. Entendi que queria morar ali pelo resto
da vida.
Eu não escolhi ser cristã, fui
constrangida pela experiência que tive. Entendi que dentro dessa caixinha se
encontrava um mundo cheio de sentido, o qual fez no meu coração tudo se tornar
explicável, desde a criação do universo até os meus desejos pessoais. Eu sou
cristã, porque foi isso que me libertou da ânsia pelo futuro, da escravidão da
adivinhação e do tabu da morte, para que não buscasse previsões ou explicações,
para que a vida mantivesse os mistérios combustíveis do dia-a-dia, necessários
ao exercício de fé tão importante para o ser humano, para que a vida não se
tornasse transparente. Deus me fez entender que mais forte que o big bang é a
força humana, que roda o mundo em busca da felicidade. Mais importante que a
caridade com o outro, é ter piedade de si mesmo. O cristianismo me explicou ao
pé do ouvido tudo o que eu precisava saber sobre a vida. E o que não foi
explicado, tenho no meu coração que não se faz necessário saber, pois está
sendo cuidado por Quem sempre perto está. Não é questão de sentimento: se fosse,
qualquer objeto digno de fé seria eficiente. É questão de resultado. O maior
mergulho de fé que dei na vida foi com Jesus, porque foi o único onde voltei à
tona com uma vida nova.