Amor não tem
data de validade, mas nosso coração inflexível, que um dia resolve apostar
todas as fichas num alguém – em um só amor, de papel passado e aliança – não tem
cintura para o rebolado da vida a dois. O precipitamento do amor, compreensível
haja vista seu caráter apaixonado, pula todas as cláusulas e inocentemente vai direto
até a assinatura. E isso não é negativo, apesar de arriscado, pois existe razão
nas coisas feitas pelo coração. Mas a sua manutenção muitas vezes é inimiga da
sua própria essência. Antes não houvesse o dia seguinte. Mas se não houvesse,
paixão seria, e não amor.
Ninguém é a
mesma pessoa todos os dias. É como se a moeda utilizada fosse variando dia após
dia e aquela transação – relação - tivesse de ser administrada segundo o valor
que ainda tem para os dois – se ainda
tiver o mesmo valor para os dois. Coloca a prova todas as promessas. Em risco tudo o que sabemos sobre nós mesmos.
A questão é
que o primeiro amor não dá sustância nem para si mesmo, tampouco para a
proposta de uma vida inteira. A dieta necessária para comportar o ingrato
passar dos dias no calendário conjugal - que muitas vezes arrasta-se em longas e
difíceis horas - passa longe do arroz e feijão oferecido por duas almas que por
vezes se chocam e se cansam do mesmo cardápio – e dos mesmos tombos emocionais.
Graças a Deus há o dia seguinte, pois é sinal de uma nova chance!
O importante é saber que sair dos trilhos é natural. Dias menos brilhantes são apenas dias, que passarão. Que é na fraqueza do ser humano que o amor
encontra impulso. Na inconstância, que ele encontra equilíbrio. O amor
verdadeiro é aquele que declara sua hipossuficiência diante da tempestade, e
apela às estratégias de guerra para que o amanhã exista, pois na nebulosidade
da tensão consegue enxergar que o melhor ainda é permanecer junto. Contraria as
tendências pessoais pela própria força, destrói linhas que separam histórias,
abate o eu, faz o território do outro ganhar mais importância que o seu.
E que o casamento é, na verdade, uma tentativa de amor. Nada
tem a ver com passividade, submissão, ou qualquer condição que não tenha um
fundo inexplicável. O que se explica não é amor, e sim acordo. Pois o amor verdadeiro,
expressado na Carta de Coríntios, é um estado muito elevado para julgarmos conhecer tão
bem. O amor não se justifica no hoje, pois amanhã poderia acabar e seria
mentiroso. O amor se justifica no último dia. E o último dia, nós não sabemos
qual é. Que na caminhada até ele, pelo menos, estejamos na boa e velha companhia
do amor que a vida deu a cada um. Amém.